Natal é mais do que o «slogan da moda»
palavras designativas de um tempo.
Palavras antigas que perdem todo o sentido
de tão cinicamente repetidas.
Crianças que moram nos bairros que não são bairros.
que vivem em casas sem chaminé
É a palavra que escrevo nesta folha de papel
apontando para um natal que não é este natal globalizado
de pais natais obesos contrastando
com a subnutrição das crianças
que ele desconhece e não visita.
demasiado pequenas para ele, pai natal, poder entrar.
Casas com brechas nos telhados
por onde entra a luz da lua,
a chuva e o frio
Natal é existência repleta de destroços.
Homens que afogam mágoas e desesperanças
emborcando copos de vinho nas tavernas
essas catedrais do desassossego das mulheres em casa
ensaiando milagres na repartição do pão à mesa.
É o absurdo. o susto. o espanto dos emigrados
esses seres ignotos
segregados pelos mais sórdidos insignificantes
donos da terra.
Natal é o sonho. Dor.
o desespero do coração cálido de todos os estropiados
que silenciam raivas e ódios.
É água cristalina caindo do céu
com seus estranhos sons
de deserto castanho lilás do Namibe
Natal é eu estar aqui, com esta sensação de envelhecer
ironizando com a imaginação inocente
das crianças de casa.