Guardo lembranças
Não assim tão longínquas
Que me esqueça os odores
Dos tempos idos
Lembranças de
Meu pai à volta da mesa
Minha mãe nas voltas da cozinha
Minha irmã brincando com a boneca nova
Eu pontapeando a repetida bola borracha
Desse tempo,
guardo lembranças agridoces:
meu pai silencioso
olhando para um espaço qualquer
a minha mãe resmungando
e nós
minha irmã e eu
alheados do ritual
a fingir que éramos
o que desejavam que fossemos
era uma noite diferente
com pouca ou nenhuma magia
que isso de magia
era para os meninos e meninas
a quem o menino jesus
deixava nos sapatinhos
prendas embrulhadas em papel bonito