Aqui estou agora de coração em África
nesta noite fria e nu do capote das ilusões
ouvindo este sábio que tudo sabe tudo sabe de África.

De África e dos pretos claro está!...

Dos pretos que para arrelia das gentes à Terra vieram
pobrezinhas crianças crescidas em pretidão
mas que têm alma branca dizem uns
ou segundo outros alma danada.
Aqui estou eu agora vestido de África por dentro
por fora cheviote sorridente o sábio ouvindo
que das pirâmides diz e esquece os negros faraós
da poligamia reverbera olhos fechados à pederastia
fosforescente ao escuro das ruas velhas do mundo cansado
braço dado com damas de camélias emurchecidas
como as palavras que solta da sua caveira sem dentes.
Aqui estou eu agora coração oprimido e sorriso longe
ouvidos atentos ao linfatismo de repetidas ideias
sei lá quantas vezes e tantas como pingos sujando o meu coração.

Oh! minha África ter-te no peito o que vale
perante a clareza absoluta e homérica de afirmações tão sábias!

«Eu antes quero uma fuga de Bach que um batuque de cafres;
Prefiro um quadro de Rubens a um manipanso preto;
Sim, claro, o Ifé e o Benin são excepções ao resto
infantil, imaturo, caricatural da arte africana»
Casquinava arritmicamente, os dentes soltos na caveira consumida de sabedoria!

De Sabedoria de África e dos pretos claro está!...

Ri caveira morta, riam todos vocês assistência sem vida
Riam todos que o caso não é para menos;
mas deixem-me por favor este sorriso cheviote por fora
enquanto o meu coração serenamente conta
os minutos-tempo que faltam para a humanidade renascer!

Francisco José Tenreiro, poeta de são tomé e princepe
Autor:
Francisco José Tenreiro
Nome Completo:
Francisco José Tenreiro
Género Literário:
Poeta
Profissão:
Geógrafo
Nascimento:
20 de janeiro de 1921, São Tomé, São Tomé e Príncipe
Falecimento:
31 de dezembro de 1963, Lisboa, Portugal