A poesia, de então, celebra a certeza da liberdade e busca a recuperação da nacionalidade, procurando reconstruir a pátria dilacerada, num projecto poético de resgate da língua literária, com aproveitamento das suas virtudes intrínsecas e universais, mas há ainda referências circunstanciais e o comprometimento ético com as marcas linguísticas locais, que caracterizam a poesia dos anos 50 e 60.
A partir dos anos 80, surge uma nova geração de escritores cujo eclectismo é a característica mais marcante. Digna de nota é uma pequena antologia publicada em 1988, e intitulada no Caminho Doloroso das Coisas. Na introdução, o organizador da antologia deixa perceber o rumo de uma certa descontinuidade que a nova poesia angolana vai tomando: "São jovens, mas dentre eles há poetas que são artistas nos seus versos como carpinteiros nas tábuas.Tiveram que pôr verso sobre verso como quem constrói um muro. Analisaram se estava bem e tiraram sempre que não estivesse, sentados na esteira do Pessoa, [...] Jovens subscritores de uma auto-explicação metalinguística em que a ruptura formal não étudo." (J. A. S. Lopito Feijoó, No Caminho Doloroso das Coisas-Antologia, Luanda, UEA,1988).
"Novíssima geração" esta nova geração de escritores - a Geração das Incertezas -, expressão que designa o conjunto de jovens que surge como um grupo heterogéneo quanto à origem da sua aprendizagem e formação mas que convive, no entanto, com uma realidade histórica e social profundamente constrangedora e redutora, muito marcados pela ideologia política e por experiências catastróficas como as convulsões políticas de 1974-75, a repressão de 27 de Maio de 1977 e a guerra civil, - buscam «a partir de alguma fenda original» uma nova óptica lírica, nas águas do passado os elementos essências para «exorcizar a morte e a dor [2]»
Inicia-se o afastamento do discurso emblemático do exaltar da luta de libertação, em que a poesia contemporânea opta por operar «uma revolução no âmago da linguagem [e leva] às últimas consequências a meta consciência poética já praticada, desde os anos 70, por alguns poetas de Angola.»
“geração das incertezas, a saber:
- Adriano Botelho de Vasconcelos
- Abismos do silêncio (1996)
- Tábua (2004);
- José Luís Mendonça
- Quero acordar a alva (1997)
- Ngoma do negro metal (2000);
- João Maimona
- A idade das palavras (1997)
- Retrato das mãos (incluído em Festa da monarquia, 2001);
- Paula Tavares
- Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001)
- Ex-votos (2003)
- Maria Alexandre Dáskalos
- Jardim de delícias (1991)
- Lágrimas e laranjas (2001).
É a vaga das Brigadas Jovens de Literatura. As primeiras formam-se nos principais centros urbanos, nomeadamente, Luanda, Lubango e Huambo., que vai desenvolver novos inventivos poéticos, liberdades linguísticas, renovações temáticas dos estados de alma e ontológicos, que, «tem como traço constante a temática da desilusão e da angústia diante da situação de Angola, que, até ao momento presente, não resolveu a questão da fome, da miséria, das guerras internas – as dúvidas em relação ao futuro fecham, actualmente, as possibilidades entreabertas pelas utopias revolucionárias dos anos 60 e início dos 70. ...»
Germinando no terreno fértil da angústia e da desilusão provocadas pela situação de guerra, corrupção e fome que se vive no país, a nova nação independente que se mostrou incapaz de cumprir as promessas de liberdade, de justiça e de igualdade. Desencantada e inquieta, a poética desta geração, projecta uma visão escura da realidade angolana que, de acordo com Maimona, se encontra "mutilada, asfixiada pela dor".
É pois com um discurso crítico, que busca na memória um tempo distante - anterior àquele da opressão e das desilusões - que os poetas da contemporaneidade encontram as imagens que serão metaforizadas por meio de recursos linguísticos que os remetem para as suas origens linguísticas, e concomitantemente às características nacionais e regionais angolanas, para compor um cenário poético capaz de exprimir simultaneamente uma «visão de mundo» e uma «forma de estar nele».
Destacam-se pela sua riqueza imagética os poetas José Luís Mendonça, João Maimona, João Melo, Paula Tavares, Lopito Feijó, Jorge Macedo, Adriano Botelho de Vasconcelos, António Pompílio, António Gonçalves, João Tala, Fernando Kafukeno, Amélia da Lomba, Abreu Paxe, Ruy Duarte de Carvalho, Carlos Ferreira, Paula Tavares, Ana Santana, Conceição Cristóvão, Sapiruka.