A literatura de Angola não nasce por método instintivo. Existem inúmeros antecedentes e precursores a influenciaram o carácter social, cultural e estético da literatura e da poesia, em particular. Logo à partida, não podemos descurar a tradição da oralidade, factor de grande influência em toda a África, e que será, talvez, um dos antecedentes de maior responsabilidade, o peso da oralidade exerce-se em muita da obra poética angolana, conferindo-lhe uma grande carga de "espiritualismo telúrico".
Os primeiros registos de produção escrita de um autor natural de Angola remontam ao século XVII. Não quer dizer que não tivesse existido literatura angolana antes desta época, Para Everdosa [1979] primeiros escritos da literatura oral conhecidos, em Angola terem surgido em 1864 com a publicação do livro de Saturnino de Sousa e Oliveira e, Manuel Alves de Castro Francina, um brasileiro e um angolano, “Elementos Gramaticais da Língua Nbumdu”, nos oferecem vinte provérbios em kimbundu (língua originária da região de Luanda e do centro e norte de Angola),
Poderá dizer-se que a literatura angolana, é o resultado de uma simbiose entre as características internas do país (culturais, sociais, políticas, económicas) e de influências externas, ou seja, é o “resultado do património das línguas e culturas africanas interligado com a influência externa e na relação entre o passado e o mundo contemporâneo” de acordo com o historiador e crítico de arte angolana, Adriano Mixinge,
Apesar de existirem evidências de que tivesse havido alguma actividade escrita, mesmo anterior à instalação da imprensa em 1844, é apenas na segunda metade do século XIX que surgiram as primeiras publicações “angolanas” que proporcionaram as condições necessárias para a manifestação do fenómeno literário que teria lugar em Angola durante os últimos anos do século XIX.
Uma das publicações pertencentes a este período é o livro de poemas de José da Silva Maia Ferreira, Espontaneidades da Minha Alma, que foi impresso em Luanda em 1849 e possivelmente constitui até hoje o primeiro volume de poemas publicados em todos os países africanos de língua oficial portuguesa [cf. Ervedosa 1979].
Em 1850 foi fundado em Lisboa O Almanach de Lembranças, e que vai ser publicado até à década de 1930 e que vai ser um dos principais meios de difusão dos novos escritores das colónias portuguesas em África, uma vez que era acessível tanto àqueles que se dedicavam exclusivamente à literatura, como aos amadores e principiantes em literatura.
José da Silva Maia Ferreira é, sem sombra de dúvida, o primeiro poeta “angolano” a publicar uma obra lírica em verso e, ao mesmo tempo, a primeira obra impressa em Angola, o que leva alguns autores, a afirmar que as obras de Maia Ferreira constituem o ponto de partida do estudo e desenvolvimento da literatura em Angola. Carlos Ervedosa por exemplo,[1979: 19] refere que José da Silva Maia Ferreira, além de publicar “Espontaneidades da Minha Alma,”livro que ele dedicava a todas as mulheres africanas, terá deixado vasta colaboração no Almanach de Lembranças, que terá sido naquela altura a publicação periódica mais lida e espalhada entre os portugueses, seus descendentes e nativos letrados das colónias, pelo mundo fora.
Em 1845, Governador Pedro Alexandre da Cunha, cria o, Boletim Oficial de Angola, que, prosseguindo as funções oficiais para que foi criado, desempenhava também as funções de um periódico, nele passando a ser publicados documentos pastorais, crónicas de viagens de portugueses pelas terras de Angola, estudo e artigos doutrinários colonialistas e alguns fragmentos literários em prosa e poesia. Foi o ponto de partida para o incremento do periodismo em Angola, a partir de onde se sucederam várias publicações.
O primeiro periódico editado por africanos, foi “O Hecho de Angola”, que data de 1881. Sua aparição abriria caminho para o despertar de novos órgãos daquela que se chamou a imprensa africana, que se caracterizou por conter publicações redigidas ora em kimbundu ora em português. Entre estas, destacam “O Futuro de Angola”, 1882; “O Farol do Povo”, 1883; “O Arauto Africano”, 1889; e “1 Muen’exi”, 1889; “O Desastre”, 1889; e “O Policial Africano”, 1890.
Inicia-se assim uma tradição intervencionista e panfletária de uma “Imprensa Livre,” feita por “filhos da terra,” comprometida com a existência social do angolano, intervindo no processo de edificação da consciência e do sentimento nacional e onde o negro se assume como uma figura que aspira à integração social.
Em 1889, J. D. Cordeiro da Matta, por muitos considerado “O pai da literatura de Angola,” publica em Lisboa seu livro “Delírios, Versos 1875- 1887”de onde em 1902 a revista Ensaios Literários extrai e publica o poema «Negra!» o primeiro poema em que um africano, assume cantar a mulher africana como «a deusa da formosura», o que é valor a não considerar pequeno.
em 1896, foi criada em Angola, por Augusto Ferreira, Francisco Augusto Taveira, Apolinário Van-Dúnem e Manuel Augusto dos Santos. a Associação Literária Angolense. No início do século XX, essa mesma geração concebeu dois periódicos literários, o Almanach -Ensaios Literários (1901), esta uma publicação semestral em cujo primeiro número trazia o volume “Voz de Angola Clamando no Deserto - Oferecida aos Amigos da Verdade pelos Naturais”,
e em 1902 viu a luz do dia “Luz e Crença” idealizada e editada por Pedro da Paixão Franco. constituindo uma colecção de ensaios literários dos escritores locais que reunia também contos, poesias, temas da história e etnografia, entre outros, afirmando-se como um movimento intelectual com o objectivo de servir aos ideais da educação, a justiça e a liberdade. “Não sejamos indignos do século das luzes em que nascemos” disse Paixão Franco nesse primeiro número; “Que aprenda cada um a sua maneira e mestre o que sabe, para que os mestres das emboscadas na noite da ignorância se convençam de uma vez para sempre de que o rebanho de carneiros vai desaparecendo. Ou cidadãos ou servis aduladores”. (LARANJEIRA , 1995, p.62).
Voz de Angola Clamando no Deserto, cujo subtítulo é “oferecida aos amigos da verdade pelos naturaes”, ficou conhecida como sendo a primeira reacção colectiva e anticolonialista angolana a um artigo racista apócrifo intitulava-se “Contra a lei, pela grei”, publicado em 1901 no jornal A Gazeta de Loanda de número 4. Voz de Angola teve uma tiragem inicial de 1.000 exemplares paga do próprio bolso pelos autores directos e outros colaboradores, todos mantidos em anonimato. À medida que o processo de colonização se foi intensificando em Angola, também foi crescendo o processo de marginalização social e económica dos angolanos
Com a proclamação e implantação da República em Portugal, (5 de Outubro de 1910),segue-se em Angola um período, marcado por um jornalismo laudatório da causa africana, de que são marcos, O Angolense, O Direito, A Verdade, O Farol do Povo, O Brado Africano, onde uma plêiade de homens, como Cordeiro da Matta, Tadeu Bastos, Silvério Ferreira, Paixão Franco, Assis Júnior, não só faziam eco “das reivindicações das massas populares da época,” como foram intérpretes “duma consciência cultural em vias de renovação e de lançarem as bases duma nova personalidade angolana”.
Mas este período é igualmente caracterizado, pela atitude repressiva das autoridades coloniais que tomam as mais diversas medidas para limitar as liberdades e reprimir a actividade jornalística e o associativismo dos naturais da terra.