Foi o último hóspede a sentar-se
o topo da mesa, já depois do martírio.

As asas magníficas haviam-lhe sido quebradas
por algum vento. Perdera o rumo
sobre a película cintilante de água
no riacho parado. Tal como poisou
junto de nós, com o belo corpo magro
arquejante, lembrava, ainda segundo o seu nome,
um santo mártir. Enquanto meditávamos,
a morte sobreveio, e a pequena criatura,
que viera partilhar a nossa mesa,
depois de ter sido banida das águas
foi banida da terra. Alguém pegou
no volúvel alado corpo morto
abandonado sem nexo na brancura da toalha
- que maculava -
e o atirou para qualquer arbusto raro
que o poeta ainda pôde fotografar.

Fiama Brandão, poetisa portuguêsa
Autor:
Fiama Pais Brandão
Nome Completo:
Fiama Hasse Pais Brandão
Género Literário:
Poetisa
Profissão:
Ensaísta e tradutora portuguesa
Nascimento:
15 de agosto de 1938, Lisboa, Portugal
Falecimento:
19 de janeiro de 2007, Lisboa, Portugal