Deste lado da história

o rio morre aqui.
Do mar sabemos nos e aos capitães
a fama da conquista.

Deste lado da história
o rio morre aqui.
Do mar sabemos nos e aos capitães
a fama da conquista.

Faço-me ao Sul
porque pertenço ao Norte
e a costa s6 me serve p'ra cumprir
tarefas de abandono.

Meu fim é circular, ir mais além.
Por isso eu sei de estrelas
direções
e nada sei do fruto
que se projecta e espera.

Cumpro tarefas, sim, porque viajo.
Assim nasci
sabendo o que me aguarda apos a descoberta.
Fronteiras
só conheço as do meu lar
e sei amá-lo, só,
noutras distâncias.

De Deus, empreendi que mora aqui no mar,
porque sou eu
quem lhe constrói a face.

Ao Rei e a Vos
apenas dou notícia do rumo horizontal.

Pois que sabeis da vertical sagueza?

*

Sei medir hoje, enfim, com muito mais rigor, a força da distância.
Sei decompô-la em tempo, espaço, velocidade e som.

Revendo-te, sereno, é de tal forma denso o teu volume
e natural o teu contorno exacto e fino
que dir-se-ia não haver sequer
um tempo em que me fiz a recordar-te.
Entre os pólos da distância retenho tão-somente a ponte,
quero dizer, a velocidade.
Das viagens não conservo uma noção que exceda um breve
sono, sonho, lapso de altura, vertical perfil.

Vou arriscar uma noção de ausência a elaborar humilde
na hora
do encontro/reencontro.
Imponho a tela crua que teci distante
(e que transporto do país do sono)
a forma testemunho da memória.
A minha percepção faz-se madura.

Retenho a sombra, apenas, do que - revisto ou novo -
adrega preservar a virgindade
e a febre do contorno a sua audácia.
Renovo a nitidez das referências.

A vaga geografia das ausências imponho uma paisagem
reassumida, renovada de ardor e nitidez amável.

Adquiro assim um depurado entendimento do que é posse.

Tenho também que o meu crescer se faz
de cinza acumulada pelos regressos -

uma brancura donde emerge opaca
a medular estrutura da paisagem.

Não nos separa espaço, nem distância ou tempo.
Entre nos dois
apenas o painel da mais recente ausência
aberto para os sinais
do encontro a conquistar.
Não mais do que a distância de um parágrafo.

E a ponte, a velocidade.

Ruy Duarte de Carvalho poeta de angola
Autor:
Ruy Duarte de Carvalho
Nome Completo:
Ruy Alberto Duarte Gomes de Carvalho
Género Literário:
Poesia, romance, conto
Profissão:
Escritor
Nascimento:
22 de abril de 1941, Santarém, Lisboa
Falecimento:
12 de agosto de 2010, Swakopmund, Namíbia, Angola