As cubatas de Himane arderam ontem
foi a grande queimada que Calupéte atiçou
no capim velho
amanhã nascerá das cinzas o capim novo
com que apascentaremos o gado.
Himane reconstruirá o seu quimbo
na encosta da montanha de Sámuei
bem longe da estrada
perto das sombras grandes da floresta
lá onde passam regatos tranquilos
os passarinhos cantam
e a madeira e os frutos silvestres abundam.
N´Dove canta debruçada sobre a lavra
os seios pendem-lhe flácidos sobre a terra estrumada
pelo seu amor
o filho chora junto da cabeça de milho
a terra está molhada das primeiras chuvas
o milho está pronto para cair nas lavras
que N´Dove preparou.
Este ano vai ser um ano grande para o povo de N´Dumbe.
Na Vila
o senhor Administrador já está a cobrar os impostos
já mandou o cipaio Tembo avisar os sobas
Gunga foi no contrato
foi para as fazendas de sisal da Ganda
os filhos ficaram com a irmã mais velha
os bois foram vendidos e a lavra abandonada.
Amanhã
Himane recomeçará a reconstruir as cubatas incendiadas
isto se não for para a cidade
ser servente de pedreiro
lá nessa cidade onde se constroem as casas de cimento armado
a tocar as nuvens do céu
lá nessa cidade de que falou o primo N´Zimbi
lá onde as luzes apagam escuridões
povoadas de cazumbis
lá onde as queimadas não aparecem
alterando os ciclos e as estações.