A mulemba secou.
No barro da rua,
Pisadas, por toda a gente,
Ficaram as folhas
Secas, amareladas
A estalar sob os pés de quem passava.

Depois o vento as levou...
Como as folhas da mulemba
Foram-se os sonhos gaiatos
Dos miúdos do meu bairro.

De dia,
Espalhavam visgo nos ramos
E apanhavam catituis,
Viúvas, siripipis
Que o Chiquito da Mulemba
Ia vender no Palácio
Numa gaiola de bimba.

De noite,
Faziam roda, sentados,
A ouvir, de olhos esbugalhados
A velha Jaja a contar
Histórias de arrepiar
Do feitiçeiro Catimba.

Mas a mulemba secou
E com ela,
Secou tambem a alegria
Da miúdagem do bairro;
O Macuto da Ximinha
Que cantava todo o dia
Já não canta.

O Zé Camilo, coitado,
Passa o dia deitado
A pensar em muitas coisas.

E o velhote Camalundo,
Quando passa por ali,
Já ninguém o arrelia,
Já mais ninguém lhe assobia,
Já faz a vida em sossego.

Como o meu bairro mudou,
Como o meu bairro está triste
Porque a mulemba secou...
Só o velho Camalundo
Sorri ao passar por lá!...

Aires Almeida Santos
Autor:
Aires Almeida Santos
Nome Completo:
Aires Almeida Santos
Género Literário:
Poeta
Nascimento:
13 de abril de 1922, Chinguar, Bié, Angola
Falecimento:
03 de setembro de 1991, Benguela Angola